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O INFERNO
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procurava. O sepultar-se um homem nos antros, a jejuar e a rezar por longo tempo, o sequestro da sociedade, o silencio, corpos macerados mal enroupados em pelles, exorcismos furiosos, luctas no vacuo, intrepidez baldada, e tantissimos outros piedosos desatinos não recordam exemplos do Salvador, mas sim as aberrações dos sectarios do oriente. Não póde ser isto a perfeição que Jesus veio ensinar aos homens; que tal chamada perfeição muitissimos seculos antes d'Elle já era conhecida dos pagãos idolatras, que tinham seus corybantes e vestaes, e bem assim dos judeus, mormente dos Essenios que a tinham aprendido dos magos da Chaldêa. Tal perfeição praticavam-a na India fanaticos sem numero, cuja raça ainda subsiste. Importamo'l-a dos mesmos paizes que nos mandaram a doutrina dos anjos rebeldes e a da reprovação dos homens — doutrinas cujo natural fructo é tal casta perfeição. Se o ideal da perfeição humana fosse isto, inutil seria o christianismo; pois que já os brahmanes a tinham ensinado dous mil annos antes do presepio, e os bouddhistas a tinham realisado mil annos antes dos monges da Thebaida.

É certissimo que os bouddhistas não visam exactamente ao mesmo scôpo que os monges catholicos: aquelles buscam em suas austeridades a morte absoluta, a destruição de sua personalidade, o serem absorvidos no ser universal, ao mesmo tempo que os monges, se renunciam ao seu eu neste mundo, é para o retomarem n'outra vida. É, comtudo, egualmente