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O INFERNO
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II

A carmelita ou o ideal da perfeição theologica.
 

Comvosco admiro as religiosas que, sob diversos nomes e com diversos habitos, assistem ao genero humano, tanto com suas orações, com o seu trabalho quotidiano, com toda a celeridade de seus pés, com toda a agilidade de suas mãos, como com todas as forças de seu ser. Credes que não é possivel seguir mais do que ellas os divinos vestigios do Salvador. Ah! quanto vos enganaes! Quanto são baixas e eivadas de heresia as vossas idêas! A perfeição não consiste na vida activa e benefica das irmãs da caridade; onde ella está, segundo o ensinamento dos theologos, é na vida contemplativa.

Se procuraes, senhora, o modêlo para vós e vossos filhos, encontral-o-eis na carmelita, com preferencia á irmã da caridade. Aquella morreu para o mundo, jaz no seu cubiculo como em um tumulo. Vá quem quizer agasalhar orphãos, ensinar ignorantes, restaurar peccadores, curar doentes, ensinar officios a servos, dar voz a mudos. Affronte quem quizer o contagio de nossos vicios! Quem quizer que cure a nossa lepra! Esses cuidados vulgares não os quer a carmelita para si. Aos pés do altar, com os braços levantados ao Senhor, é o seu posto. Não se bulirá d'alli, ainda que todo o paiz arda ensanguentado. Não lhe digaes: vosso irmão está a morrer; vossos sobrinhos vos estão chamando.