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O INFERNO
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a primor, mais puros e intrepidos, a flôr da juventude christã. Não soffre a menor duvida que é mil vezes mais de perigo a sociedade onde os soccorros são muito menos do que os retiros abençoados. Que nos faz isso! De logar abrigado e onde a graça superabunda é que os poucos são repulsos, com quanto, ao primeiro intuito, nos pareça creado para elles; ao mesmo tempo que do baluarte das luctas angustiosas se retiram os fortes, com quanto pareça tambem este o seu logar proprio.

Os coxos, os cegos e os inermes são postos na liça sanguinosa; os mais aguerridos soldados enclaustram-se. Espantem-se e riam-se, que a coisa é assim; e, senão, perguntem-no á Sorbonna.

E assim é preciso que seja, pois que a perfeita vida é a claustral, que, no entender dos theologos, vem a ser a mais avêssa ás inclinações de nossa natureza viciosa, e, por conseguinte, a de mais difficil observancia; mas, porque é impraticavel na sociedade, não se lhe dispensa de ser exemplo á sociedade; e, sem presumpções de lá chegar, devemos propender para ella continuamente, visto que estamos tanto mais á beira do inferno quanto longe d'aquella vida perfeita.

Que se hade fazer, pois? Eis o problema. Cada qual tem no mosteiro um trilho feito, e o futuro certo, portanto está quite de cuidados que fóra d'ahi seguem a pobreza, o trabalho, e até a riqueza, além das responsabilidades que a toda a hora pendem dos actos de uma vontade livre, n'um viver sempre fluctuante.