Página:O Momento Literario (1908).pdf/101

Wikisource, a biblioteca livre

fim: usar de palavras escritas para impressionar cérebros humanos, fazer vibrar inteligências e corações. Quanto a mim, eu compreendo que se possa fazer com todo amor certas propagandas de idéias elevadas, insinuando hoje um argumento no meio de uma simples notícia, amanhã no comentário de um telegrama, depois num folhetim, depois num artigo solene... E é com uma verdadeira emoção que, mais tarde, se encontra aquele argumento, que apareceu anônimo, perdido em duas linhas de noticiário, repetido aqui e acolá, fazendo o seu caminho... Por que razão há nisso menos arte do que em amassar meia dúzia de substâncias coloridas, borrar uma tela, e dar assim a impressão de uma paisagem, uma cena qualquer? Com aquelas linhas semeadas aqui e além o jornalista criou em muitos milhares de cérebros a impressão de uma sociedade futura, constituída de outro modo, com uma vida diversa da atual. Pois essa obra de criação e emoção não é artística? — Ninguém o devia negar!

Não é verdade que o jornalismo prejudique em nada a nossa literatura. O que a prejudica é a falta de instrução. Sem público que leia, a vida literária é impossível. O jornal faz até a preparação desse público. Habitua alguns milhares de pessoas a uma leitura quotidiana de alguns minutos, dando-lhes amostras de todos os gêneros. Os que têm gosto e tempo começam