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reler um autor por predileção, sem a preocupação do proselitismo, do apostolado.

Como sou um pouco cheio de arrebatamento e paixão, é natural que já dissesse, ou mesmo escrevesse — X é o meu autor predileto, é o molde do gênio ou a bandeira de arte que tenho que defender, — mas com sinceridade hoje afirmo — nunca tive modelador de arte que me fascinasse.

Não posso, portanto, meu caro João do Rio, dizer-te a fonte onde fui beber a fantasia com que eu, mais por boa intenção que por maldade, malho, pelos jornais e pelo livro, a minha arte tão sem expressão e sem cor.

E

Nenhuma. Digo sem pseudomodéstia ou preocupação de originalidade. Sou dos que não se satisfazem jamais com o que produzem e vivem sempre na febre ansiosa de escrever coisa que preste. O meu livro será o de amanhã. Isto é o que digo hoje e certamente o que hei de dizer aos trinta, aos quarenta ou aos sessenta anos.

Tenho três pesadelos n'alma, profundos e inapagáveis, tais os de ter dado em letra de forma três livros de versos que, mau grado a sua feição melosa e vazia, obtiveram da crítica indígena aplausos