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Depois, como se não bastasse aquela figura de Bank para meu castigo, disse-me o dono do animal: — Olhe, se apanho o malvado que praticou tamanha perversidade, corto-lhe as orelhas.

À noite, custei muito a dormir, e quando pela madrugada conciliei o sono tive um horrível pesadelo. Sonhei que estava com as orelhas cortadas; e se realmente não as perdi, sentenciou no dia seguinte minha Mãe, não foi porque não merecessem ser arrancadas a puxões, mas para que as sentisse arder todas as vezes que me lembrasse daquele crime.

Outro exemplo ilustrativo: aos dez anos, quando entrei para a escola, pois meus pais tinham tido o bom senso de não me subtrair durante a primeira idade ao viver livre, que a natureza impõe ao desenvolvimento da infância, eu não sabia A nem B; mas em compensação conhecia toda a passarada, desde a fúnebre coruja até ao petulante beija-flor.

Ora, em face de todas as galas e esplendores da avifauna pernambucana, que encanto podia ter para mim a aula com o seu monótono e aborrecido B...A — BA?

O preto Calisto era um grotesco tipo de mestre-escola: usava cartola cinzenta, casaca preta e calças brancas. Comprometera-se com meu pai a ensinar-me primeiras letras em troca de uma flauta de ébano com chaves de prata.

A sedução do campo, trepando-me nas árvores,