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enchendo os bolsos, e ainda mais o estômago, de frutas, espreitando os pássaros, perseguindo as borboletas, inspirava-me horror à escola.

Entretanto, o Laurentino, cria de casa, filho mais velho da escrava Antônia, era acusado de distrair-me dos estudos com a sua estimada criação de canários brigadores, e, em um belo dia de sol, bem me recordo, ao voltar da escola, já não encontrei às voltas com os seus queridos passarinhos o Laurentino, que havia sido embarcado para o Sul.

Com os olhos cheios de lágrimas, abri a porta das gaiolas, e deixei ganharem o espaço livre aqueles outros cativos. Desde aquele momento fui abolicionista de coração.

No curso de preparatórios o livro que concorreu para a formação de meu espírito foram as Fábulas de Fedro.

É um livro em cujas páginas se reflete nitidamente a Natureza como em um espelho, e que não se pode dizer escrito para a escola e sim para a vida.

D. Quijote de la Mancha, com seu inseparável companheiro de jornada, o pacato Sancho Pança, e a formosa Dulcinéia del Toboso, tão radiante como só podia imaginar o cérebro exaltado de seu incomparável cavalheiro, marca a segunda etape de minha evolução intelectual.

Miguel Cervantes, provocando o riso à custa