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dos Estados são focos de insuportáveis esperanças das letras e acostumam o espírito à estreiteza das igrejocas em que o elogio mútuo cria irredutíveis pedantes e pretensiosos mestrúnculos de sinagogas improdutivas, em que se cultiva a flor da retórica convencional. A prova é que tudo quanto é talento aqui não se formou em centros literários. O talento aparece quando tem que aparecer, e a sua evolução por meio dos centros literários é uma ilusão. Os centros literários dos Estados são perigosíssimos e alarmantíssimos. Acho bom não bulir nisso. É horrível.

Começo a ter medo de continuar. Entretanto, tento uma perguntazinha vaga:

— Atravessamos um período estacionário para as letras?

— A prosa estacionou como um navio entre gelos, e quanto à poesia, as liras estão por aí penduradas. Não vejo nada de novo, de original e, se umas tentativas surgem, são esperanças que ainda não se corporizaram. Os representantes da prosa, entre nós, quais são? Eis o nome de Rui Barbosa. É um escritor que se deixou hipnotizar pela mole arqueológica dos bons clássicos que a gente desinfeta antes de manusear, para que o arcaico não venha agitar, no nosso estilo, os seus lenços de alcobaça. Rui Barbosa agora não passa de um Cuvier das letras, não é um revivedor de formas, é um escavador de fórmulas. Há