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como os diletantes a tomam, será sempre mesquinha e desinteressante se não for elaborada com o intuito de reproduzir o Belo, e o que reproduz o Belo é a Obra Prima, ou seja palavra falada ou escrita, ou seja som, cor, linha ou bloco. Por isso é que esta expressão "formação literária" me soa mal. "Formação literária" parece querer indicar pretensiosamente o quer que seja que se assemelha, verbi gratia, a "colação de grau"; há nessa fórmula de aula de retórica, um perfume de bacharelice compenetrada da sua canonização literária. Fico por conseguinte, tonto, instado para dizer quais os autores que mais contribuíram para a minha formação literária. Estou certo que o Sr. Barão de Loreto ou o Sr. Barão de Paranapiacaba, versicultores cobertos de cãs, não hesitariam, um minuto, na resposta. Eu hesito, porque, francamente, não tenho formação literária, e acho que ninguém deve tratar de ter.

A minha formação literária é isto: uma grande revolta e uma grande aspiração — revolta contra o pedantismo inativo do medalhão e a maçonaria nula das coteries, aspiração à luta sincera pela Arte e pela supremacia do Talento. A minha formação literária inspira-se pois nessa direção e a minha doutrina bebo-a nas fontes supernas que borbulham nos píncaros: Homero, Ésquilo, Virgilio, Dante, Shakespeare, Cervantes, Goethe, Balzac, e, sobretudo, a tout