porém, desce dos páramos onde voava e, mais razoável e humano, acaba concordando com algumas influências menos elevadas.
— Recordo-me, entretanto, de alguns poetas que foram ou são de meu agrado e com os quais talvez tivesse tido, em épocas sucessivas, e ainda hoje tenha, a ilusão de haver encontrado longínquas afinidades.
— É quase pô-los à margem. E quais foram?
— Fagundes Varela, o meu predileto em criança; Lamartine, Hugo, Richepin, Luís Delfino, companheiros das noites de vigília do internato, e finalmente Baudelaire, Rimbaud, Regnier, Quental, Francisca Júlia, Cruz e Sousa, C. D. Fernandes.
— Ora esta!
— Para desencargo de consciência devo acrescentar que, a despeito de minha boa vontade, ainda não consegui ler nem Gonçalves Dias nem Machado de Assis...
— Qual prefere das suas obras literárias?
Sinto que esta pergunta enternece o poeta.
A sua voz aveluda-se, e, enleado numa suave modéstia, ele diz devagar:
— É boa... Das minhas obras?
Mas esta frase é o prelúdio de uma berceuse que começa pianíssimo, tem de vez em quando acordes violentos, e cujo desenho é o arabesco sutil da consciência censurando por chic coisas que ela, a consciência, acha razoáveis, boas ou