Página:O Momento Literario (1908).pdf/198

Wikisource, a biblioteca livre

Silva Ramos é modesto e delicado, quase tão modesto quanto delicado. Conversa como se estivesse no salão de Mme. Geoffrin, em pleno século XVIII; usa um bigode branco que lembra o de Edmond Goncourt e a sua voz guarda um sonoro sotaque alfacinha. Como é possível que esse homem, sendo professor, tendo concorrido para a pletora de bacharéis, conserve a inalterável distinção e a aristocrática afabilidade? Não há no mundo coisa que mais enerve do que ensinar meninos, e estou em acreditar Silva Ramos capaz de resistir a tão exaustiva existência pelo seu rico temperamento lírico.

Silva Ramos é talvez entre nós o último dos românticos, com todo o seu encanto, o seu imprevisto e o filagranado sutil de ironia e amor que fez Théophile e fez Musset. A sua arte pode defini-la um período de Jules Laforgue:

— Faire partir l'esthétique de l'amour.

A sua modéstia como a sua delicadeza são indefiníveis.