Página:O Momento Literario (1908).pdf/199

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É dele esta encantadora carta de tão fino sabor literário, que acaba a gente até por admirar a Academia de Letras:

"Não lhe parece, meu amigo, que um poeta lírico, como eu, poderia bem escusar-se de responder a um interrogatório da natureza do seu, muito interessante, embora?

Embaraço-me logo na primeira pergunta: "Para sua formação literária, quais os autores que mais contribuíram?"

Na formação de um poeta lírico, que eu saiba, influi exclusivamente um único autor: o Autor da criação, que fez o céu, o mar, os bosques, os rios, semeou no éter as estrelas, pôs o perfume nas flores, deu às aves o canto, coloriu de tons a aurora, derramou a plenas mãos o oiro fulvo dos poentes, tudo isto iluminado pelo olhar da mulher, ente singular em quem se resumem todos os encantos, em cujo seio se engendra o amor, com todos os refinamentos imaginados pelas filhas de Eva, desde Maria Madalena até Santa Teresa de Jesus.

Quando ainda não tinha vinte anos, adotei por epígrafe de um livro de versos aquilo de Musset:

Je n'ai jamais chanté ni la paix ni la guerre.
Si mon siècle se trompe, il ne m'importe guère.