Página:O Momento Literario (1908).pdf/201

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porque muito há que eu estou convencido desta verdade profundíssima, que constitui o princípio fundamental da crítica entre nós: os nossos amigos são uns gênios, os outros são todos uns alarves.

Para satisfazer ao quarto quesito, direi que, não existindo, de modo nenhum, no Brasil, pelas condições inerentes à sua natureza, o que se chama uma literatura, o perigo de literaturas provinciais, com tendências emancipadoras e absorventes, só se pode desenhar no horizonte como visão de cérebros doentes.

Por último: "O jornalismo, especialmente no Brasil, é um fator bom ou mau para a arte literária?"

Distingo: para a arte literária é mau, para o literato é bom. Para a literatura é um fator mau, porque a feição essencialmente mercantil das folhas diárias, revelada nas pequeninas preocupações de furos, curiosidades de senhoras vizinhas, folhetins de sensação, ao paladar das criadas de servir, é absolutamente incompatível com a idealização da arte pura, no sublime desinteresse com que se ala aos mundos superiores, toda ela desprendida das misérias terrenas. Para o literato é um ótimo fator, porque, facultando-lhe um emprego de repórter ou de noticiarista, quando mais não seja, coloca-o ao abrigo das primeiras necessidades, tornando, para sempre, impossível a reprodução