Página:O Momento Literario (1908).pdf/216

Wikisource, a biblioteca livre

altos que acolher lucubrações literárias. Depois, o poeta que é amanuense do governo não tem guarida no jornal da oposição e o contista que freqüenta os salões e namora a filha do chefe político em oposição nunca achará agasalho na folha oficial. A publicação de livros é um martírio: o preço da edição — exorbitante, e ninguém quer ou sabe lê-los, quanto mais comprá-los.

É assim que os rapazes que se preocupam em fazer versos, fantasias e contos — que é quase a que se reduz essa literatura provinciana — só encontram um certo desafogo nos agrupamentos neutrais.

Reúnem-se, lêem as suas produções, aplaudem e são aplaudidos; às vezes, fundam uma pequena revista... E tudo obrigado a presidente, tesoureiro e secretários. Esses centros trazem uma vantagem: desenvolvem umas vocações mais bem dotadas e as preparam para vôos mais largos.

E trazem um inconveniente: o orgulho de alguns plumitivos exacerba-se e torna-se feroz.

À força de criar em torno de si uma certa legenda de talento, um ou outro desses agremiados cresce para dentro de si de uma forma alarmante. E, então não há expressões encomiásticas que, em breve, lhe não pareçam sem sabor. Mas, em verdade, desses há raros. A maioria é modesta e pouco a pouco sucumbe asfixiada. Talentos brilhantes conheci que para sempre desapareceram.