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e sacrificam, dessa arte, os milhões de frágeis seres que do seu amparo viviam; e, como conjuração aos clamores e às maldições das vítimas inocentes, fabricam-se códigos de humanitarismo e cria-se toda uma repulsiva moral patriótica, que galvaniza o coração da bruta massa de carrascos inconscientes que compõem as suas fileiras.

Ora, o jornalismo é hoje uma instituição coletiva, anônima e quase irresponsável, por quase onipotente; participa, pois, dos vícios das coletividades. Estes se atenuam quando o jornal é a tribuna ativa, de onde um determinado espírito, que traz convicções e idéias próprias, se dirige às massas para esclarecê-las, conduzi-las e educá-las.

É o caso de Ferreira de Araújo e de José do Patrocínio.

Mas, na sua feição mais comum, o jornal moderno é uma instituição que decai.

No entanto, eu não pretendo, nem desejo, aqui, vociferar contra o jornal, onde nos fizemos, que nos deu os primeiros ardores para o combate da vida, os primeiros entusiasmos e ilusões de renome e as últimas emoções, realmente sinceras, da publicidade. Sou grato ao jornal, amo o jornal, com esse amor irrefletido dos verdadeiros amantes. E nem por isso — não se sobressalte o meu preclaro amigo — nem por isso constatarei nestas linhas simples que ele é um veículo de idéias,