Página:O Momento Literario (1908).pdf/235

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meus colaboradores, a saída da minha folha não diminuirá um exemplar. Engoli em seco em nome da classe, e calei-me. Parece que é assim mesmo!

— Mas, diga-me: tem muita coisa em preparo?

— Foi-se o tempo do livro único; eu imagino por conseqüência, muita coisa mas para quem vive preso ao jornal — e só têm grande ração os que assim vivem — as obras dependem dos jornais. Não se dá uma penada sem a certeza de ver a coisa publicada no dia seguinte. Eu tenho um romance que ainda não passou do primeiro capítulo. Ficará pronto se um jornal tiver a idéia de encomendar-me um romance. Daí o achar que para anunciar obras minhas falta aqui o colaborador eventual, o que coleciona os trabalhos — o jornal...

João Luso ergueu-se, diminuiu a luz do candeeiro. Lá fora a lua espalhava pelo monte a poeira de prata do luar alvíssimo. Em derredor tudo era como se estivéssemos em cena, no quarto ato de uma peça em que entrasse a Rejane com os diálogos feitos pelo Donnay. Deviam ter lugar ali as despedidas soluçantes, e eu ouvia nitidamente, na alucinação calma dos imaginativos, uma voz arfante murmurar — adeus, cruel!...

— Pois muito boa noite.

— Até outra vez! concluiu o escritor. E, cuidadosamente, deu volta à chave por dentro.

Ia trabalhar.