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vida de hoje, tão preciosamente repartida entre as cansativas atribulações do ganha-pão de todo o dia e o carinhoso consolo da Família.

E poupo assim à Posteridade a trabalheira dos rebuscamentos históricos sobre a minha formação literária e sobre os méritos que me possam proporcionar a homenagem de uma herma na quietação bucólica das alamedas do Passeio.

Tem paciência e ouve-me.

Pouco antes de 1890 eu ainda chorava amores traídos e desventuras sentimentais, com a mesma sinceridade com que choraria hoje, se me roubassem a carteira com todo o ordenado de um mês.

Era um lírico, com todos os matadores, e, se bem me lembro, usava também a sombria sobrecasaca da Escola e o mole chapéu conquistador. Era pálido e tinha insônias.

O meu lirismo tinha qualquer coisa da espontânea sinceridade de Casimiro de Abreu e do bucolismo agradável de Gonzaga. Foi na imitação destas duas boas Almas simples que eu moldei as minhas primeiras produções literárias, acrescentando-lhes, por conta própria, um cepticismo reles de filosofia colegial, que condizia admiravelmente com a minha palidez, com o meu chapéu conquistador e com as minhas insônias.

Por esse tempo o lirismo nacional agonizava