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— Pode-se importunar?

— Ó ave madrugadora! Tu por aqui?

Ergueu-se com a sua aristocrática distinção. Estava todo vestido de linho branco, a camisa alva com punhos e colarinhos duros.

— Aposto que vens ver os meus cartões postais?

Eu olhava a sala onde há tanto tempo mora a Musa perfeita. As paredes desaparecem cheias de telas assinadas por grandes nomes, caquemonos de Japão, colchas de seda cor d'ouro velho. As janelas deixam ver o céu, a rua e as árvores entre cortinas cor de leite e sanefas de veludo cor de mosto. Do teto pende uma antiga tapeçaria francesa, a um canto um paravento de laca parece guardar mistérios no bric-à-brac do mobiliário — cadeiras de várias épocas, poltronas, estantes de rodízios, guéridons, divãs, dois vastos divãs turcos, largos como alcovas... Ao centro a mesa em que escreve o poeta, muito limpa e quase muito pequena, de canela preta, encimada por um ventilador. Os meus olhos repousam nos bibelots, nas jarras de porcelana cheias de flores frescas; a alma sente uma alegre impressão de confortável. O poeta faz-me sentar.

— Oito horas já? Há não sei quantas escrevo eu.

— Versos?

— Oh! Não, meu amigo, nem versos, nem crônicas — livros para crianças, apenas isso que é