Página:O Momento Literario (1908).pdf/281

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realidade, seu fim e seu todo; que todo poder é um absurdo; que a propriedade é um roubo; que o Estado tem seus alicerces no crime e só é mantido pela violência; em suma, que o mundo da iniqüidade e do roubo, onde a desigualdade faz do sofrimento do maior número o poder dos plutocratas e dos dirigentes, será fatalmente substituído por um mundo novo, onde as relações sociais serão fundadas, não mais sobre a rotina e a arbitrariedade, mas de acordo com as leis do viver integral e a dignidade humana, visto como a história marcha para a anarquia — ideal que não é, como pensam os reacionários e os laboradores do obscurantismo, um sonho de loucos, mas um fenômeno que a ciência constata como inato na natureza e uma idéia orgânica no homem, ideal que será a vitoria final da vida no planeta.

Os escritos de Proudhon, Bakunin, Kropotkin, Mackay, Tucker, Réclus, etc., fizeram de mim um anarquista convicto; e Buchner, Spencer, D'Holbach, Lange, Diderot, etc., converteram-me num ateu profundo. Foi por esse tempo que conheci Marie-Jean Guyau, o luminoso pensador francês, morto em plena primavera da vida, cuja influência moral sobre meu espírito foi profunda e salutar. A sua obra capital, o Esboço duma moral sem obrigação nem sanção, onde nos propõe como princípio ideal a própria vida, "a vida a mais intensiva e a mais extensiva possível