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O que urge é compreender isso, e é aproveitar a lição dos fatos. Nós não temos unicamente, diante de nós, o problema do saneamento e do povoamento. Com o saneamento apenas, livrar-nos-emos das epidemias que os mosquitos, os ratos, os micróbios transmitem de corpo a corpo, mas deixaremos, intacta e tremenda, pairando sobre nós, a ameaça das epidemias morais, que depauperam o organismo social, e o conduzem à indisciplina, à inconsciência e à escravidão. Tratando apenas do povoamento, feito ao acaso das levas de imigração, sem fundar uma escola em cada novo núcleo de povoadores, conseguiremos somente aumentar e dilatar o império da ignorância e da irresponsabilidade.

O problema que tem de ser resolvido, juntamente com esses dois, é o da instrução. E o que dói, o que desespera, é que toda a gente culta do Brasil tem a consciência disto, e que, há mais de um século, esta verdade, anunciada, proclamada, escrita, em todas as tribunas, em todos os livros, em todos os jornais, ainda não achou governo que a servisse em terreno prático.

Houve um silêncio. O poeta falava como um filósofo e no seu lábio a verdade vibrava. Timidamente comecei uma frase, que não chegava a ser pergunta:

— Os Estados procuram criar literaturas à