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Estados tenderá a criar literaturas à parte?

— Não o creio. Eles, se por um lado possuem a paisagem e mesmo costumes, por outro não poderão nunca possuir usos, modos de vida perfeitamente próprios; a vida lá, pelo menos enquanto a língua for a portuguesa, nunca deixará de ser uma simples repercussão da nossa. E mesmo a posição privilegiada do Rio está a indicar que, qualquer que seja a sorte da capital política do país, enquanto os vinte Estados se mantiverem unidos na formação do Brasil, a capital de fato há de ser sempre aqui. Por isso não acredito possam os centros literários estaduais vir a criar literaturas especiais.

— O jornalismo, especialmente no Brasil, é um fator bom ou mau para a arte literária?

— Encarando-o sob o aspecto da prática, do exercício, considero-o dos piores. A facilidade com que o público aceita quanto se lhe dá; a maleabilidade de espírito necessária no jornalista para o enfrentamento das questões as mais diversas; a pressa com que se é obrigado a trabalhar na redação, a atender à urgência da hora; a banalidade e leveza de comentários, a que se é forçado — são elementos nocivos, que acabam esterilizando, matando o homem de letras.

Depois, v. está na lide e não ignora, no jornalismo