Página:O Momento Literario (1908).pdf/330

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Tocando o nome augusto do grande e saudoso mestre da imprensa brasileira, não parece fora de propósito recordar um fato que deve ser aqui narrado por ter estreita conexão com o assunto deste artigo.

Um moço de mérito, mas desconhecido, um moço, que muito prometia, escreveu um dia um esplêndido conto. Onde publicá-lo?

Sem apresentação, sem proteção literária (até nas letras é preciso ter proteção no Rio!...), entendeu, contudo, de ir procurar o querido diretor da Gazeta de Notícias para que lhe publicasse o conto.

Foi por uma bela tarde, após o jantar, que Ferreira de Araújo, obeso, risonho, no jardim, a palitar os dentes, recebeu o jovem estreante. Depois de, naturalmente, lhe ter dito alguma frase corriqueira, igual àquela que Th. Gautier, no seu livro Portraits Contemporains (pág. 47), conta haver dirigido ao estupendo Balzac, quando o visitou pela primeira vez, o tímido candidato à sagração fluminense entregou ao preclaro jornalista as tiras caprichadas do seu burilado conto, implorando-lhe a publicação dele na Gazeta, Ferreira de Araújo passou ligeiramente os olhos pelo manuscrito, dobrou-o, pô-lo no bolso, dizendo languidamente ao rapaz: — "Agora, não posso ler."

Estas quatro palavras simplíssimas bastaram