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Passou-se um mês, passaram-se, dois, três, quatro meses...

— A resposta?

— Já comecei...

Mas afinal, um dia, entre outras cartas, encontrei uma carta simples e sem espalhafatos denunciadores de que trazia a resposta à enquête. Abri-a. Era de Raimundo Correia:

Não respondo ao seu 1º quesito, sem remexer em cinzas frias, esquecidas a um canto da minha memória. É talvez uma indiscrição que certas dificuldades de sentimento me tornam muito penosa agora. Na velha Livraria Clássica Portuguesa dos irmãos Antônio e José Castilhos achará v. os dois escritores de minha predileção na meninez: o prosador Manuel Bernardes e o poeta Bocage. Mas a verdade é que naquele apanhei um tremendo pavor do inferno, que me fez sonhar muitas noites com o diabo, e que, no segundo, só me deleitaram os ligeiros epigramas aos médicos e as redondilhas satíricas à estanqueira do Loreto. Ainda me lembra esta fácil quadrinha:

Domingo, dois do corrente,

Faz-se pela vez primeira

O brinco dos cavalinhos

Na testa da estanqueira.

Também, para mim, o fazer versos não passava então de uma brincadeira, de um meio cômodo e inofensivo de gracejar com os