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— Um inquérito? Pois não: às suas ordens, com todo o gosto.

Passaram-se os dias. Voltei à carga.

— Francamente, disse-me o autor do Brás Cubas, o assunto é grave, é muito grave. Mas eu respondo, respondo quando tiver ânimo para escrever.

Logo os amigos e admiradores do mestre disseram-me:

— Perdes o tempo, o Machado não responde...

Resolvi então cultivar a relação preciosa em bocados de palestra, ouvidos nos balcões do Garnier, por onde todos os dias passa o glorioso escritor. Soube assim que o Brás Cubas fora ditado, durante uma moléstia de olhos de Machado, à sua cara esposa; que o humorista incomparável da "Teoria do Medalhão" tem uma vida de uma regularidade cronométrica, que as suas noites passa-as a tentar o sono...

Espírito de tamanho fulgor tem, entretanto, a nevrose de se incomodar e sofrer com os pequenos nadas da existência. Se por esquecimento deixa de cumprimentar um homem, perde-se em conjecturas. Que irá pensar o homem? Que dirá dele? Nesse período, uma vez, o grande mestre chegou à livraria nervosíssimo. E contou por quê. Fora à secretaria um cavalheiro pedir-lhe qualquer coisa. Não o satisfizera e estava incomodado com isso quando passou o contínuo