Página:O Momento Literario (1908).pdf/348

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o fim desse gênero de vagabundagem criadora, porque a pobre coitada que não lhes tece artigos todos os dias, esfalfa-se inutilmente em louvores para certos senhores, sempre ignorados, sempre esquecidos, sempre invendáveis e envenenados pela intoxicação do próprio ineditismo.

— O amigo é brutal. Isto não é filosofia, é balanço de livraria.

— Muito bonita frase no tempo em que os poetas morriam dipsômanos e só escreviam por chic em estado de embriaguez. Mas o Brasil transforma-se, civiliza-se. Hoje o jornalismo é uma profissão, quando antigamente era um meio político de trepar; hoje o escritor trabalha para o editor e não manda vender como José de Alencar e o Manuel de Macedo por um preto de balaio no braço, as suas obras de porta em porta, como melancias ou tangerinas. Uma nova necessidade infiltrou-se nos nossos hábitos: a necessidade da higiene e do confortável. O escritor precisa de higiene, de cuidados, de luxo. Eu acredito que o gênio profundo e fecundo de Coelho Neto não se expandiria de maneira tão maravilhosa se não tivesse o ambiente de luxo e de conforto da sua sala de trabalho; e Medeiros e Albuquerque não possuiria aquela regularidade, aquela precisão, aquela clareza de argumentos e de estilo se não adquirisse na vida todas as comodidades do corpo e do espírito.