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Marinho. Nem então, nem depois, participei daquelas iras ou entusiasmos; da sua biblioteca o que me atraía era uma magnífica coleção do Panorama e a do Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro; se a estes ajuntar o Manual Enciclopédico de Emilio Aquiles Monteverde, que eu lia na escola, terá v. o gênesis de todas as minhas letras, ciências e artes daquela quadra. Confesso que não aumentei de um ceitil todo aquele patrimônio, e em muitas coisas o dissipei e diminuí. Todas as minhas horas de lazer consumiam-se em desenhar, copiando as gravuras do Panorama, em reler a mitologia e as verdades eternas do Manual Enciclopédico; por outro lado, o Almanaque de Lembranças ensinava-me a fazer charadas, e as charadas ensinaram-me a fazer versos. Não se espante de que aos doze ou treze anos eu começasse a fazer versos: eu ignorava ainda a arte, sem dúvida mais difícil, de os não fazer, arte que enfim, tarde e mal, aprendi. As minhas origens espirituais, pois, são, como a social, plebéias, rústicas e pobres, mas nunca pediram de saco e brado pelas ruas. As minhas expansões nunca fizeram explosão que pusesse em perigo o teto paterno: acomodaram-se no estreito ambiente doméstico e suportaram a pressão do silêncio externo. Resta, porém, indicar um fator singular e dos que se têm a conta de indiferentes, mas que, ao parecer, foi