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UM LAR DE ARTISTAS


 

« Pois eu em moça fazia versos. Ah! não imagina com que encanto. Era como um prazer prohibido! Sentia ao mesmo tempo a delicia de os compor e o medo de que acabassem por descobril-os. Fechava-me no quarto, bem fechada, abria a secretária, estendia pela alvura do papel uma porção de rimas...

De repente, um susto. Alguem batia á porta. E eu, com a voz embargada, dando volta á chave da secretaria: já vai! já vai!

A mim sempre me parecia que si viessem a saber desses versos em casa, viria o mundo abaixo. Um dia, porém, eu estava muito entretida na composição de uma historia, uma historia em verso, com descripções e dialogos, quando senti por trás de mim uma voz alegre: — Peguei-te, menina! Estremeci, puz as duas mãos em cima do papel, num arranco de defesa, mas não me foi possivel. Minha irmã, adejando triumphalmente a folha e rindo a perder, bradava: — En-