Página:O Momento Literario (1908).pdf/58

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chamar a minha origem e formação espiritual, conheci que essa espécie de exame de consciência não era nada fácil.

Achei, em minh'alma, meio velada, num semicrepúsculo subjetivo, tantas antropologias, etnografias, lingüísticas, sociologias, críticas religiosas, folclóricas, jurídicas, políticas e literárias, que tive medo de bulir com elas e me meter nesse matagal...

Conheci, sem esforço e para meu mal, que, se não sou ao pé da letra um cientista, não me cabe também a denominação de literato, no sentido restritíssimo que este qualificativo tem entre nós e parece ser a intuição por v. abraçada, quando diz no auto de perguntas: De seus trabalhos, quais as cenas ou capítulos, quais os contos, quais as poesias que prefere?

Escrevi, é certo, algumas poesias, entre os dezoito e vinte e cinco anos, que andam aí em dois volumes. Mas foi só.

Não tenho romances, contos, novelas, dramas, comédias, tragédias, folhetins, crônicas, fantasias...

Não, nada disso.

Conheci, mais e de súbito, que essas confissões de autores são coisa perigosa: se se diz pouco, parece simplicidade afetada e insincera; se se diz um tanto mais, parece fatuidade e pedanteria.