Página:O Momento Literario (1908).pdf/82

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de metal vão escorraçando a raça primitiva. O norte, para onde emigram os pretos, os caboclos e os descendentes deles, será o reservatório fatal da grande poesia natural do Brasil. Prevejo no futuro o Rio como um grande celeiro e a divisão da literatura em duas literaturas distintas — a do sertão e a da campina...

Eu interrompi sincero:

— Como é difícil ser céptico ao lado do corifeu da esperança!...

Havia na sala confortável o encanto das nobres emoções. Neto parou.

— Falemos então do jornalismo, já que é preciso. O jornalismo foi sempre, no Brasil, político. Cansado o público, a mania politiqueira foi atenuada pelos processos industriais. O jornal deixou de ser a urna para ser...

— Para ser?

— ... uma oficina. Tem sido para a nossa literatura um grande bem relativamente. Como nunca teve audácia para educar, aceita um trabalho, não pelo gênio do autor, mas sempre de acordo com o agrado do público. Às vezes é perverso. A decadência do teatro é devida exclusivamente ao jornal e aos próprios escritores dramáticos jornalistas. O público é um animal que se educa. A princípio ia aos teatros bons. Veio o anúncio, o balcão dominou, começaram os incentivos para o trololó. Hoje o público está acostumado e não quer outra coisa.