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dessas listas. Mas quase todas começam por nomes ilustres da antigüidade clássica.

Ora, eu declaro humildemente que conheço poucos clássicos e que esses não tiveram sobre mim nenhuma influência. Tenho verificado em palestras literárias, comparando confidências íntimas com declamações públicas, que o meu caso é o de muita gente; mas todos acham feio confessar claramente esse fato... Como, porém, o autor deste inquérito, pela cara rapada e pela vastidão do abdômen, tem um certo ar fradesco, não tenho dúvida em derramar-lhe no seio esta envergonhada confissão...

Evidentemente, eu não quero negar valor aos clássicos. Provaria apenas minha ininteligência. Pensando na época em que eles viveram, recordando o estado dos espíritos e da instrução daqueles tempos, qualquer pessoa é forçada a admirá-los. Mas o que eu não creio é que eles dêem hoje emoções fortes a ninguém . E é só isto o que eu digo.

Em todo caso, esse venerável pessoal antiqüíssimo nada influiu sobre mim. Só um me pareceu assombroso: foi Lucrécio. Aliás, eu o li modernizado na tradução em verso de André Lefèvre.

Há algum livro de literatura — romance, poesia ou contos — que tenha influído decisivamente sobre mim? Creio que não. Li muito, li gulosamente centenas de romances e de livros de poesias, mas não tenho idéia de que nenhum