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marcasse uma data na evolução do meu espírito. Admirei extraordinariamente Germinal, que ainda hoje acho um livro soberbo; Trois coeurs, de Edouard Rod; L'Adorée, de René Maiseroy; Pierre et Jean, de Maupassant; Daniel Valgraive, de Rosny, e Mensonges, de Paul Bourget. O Paul Bourget, que escreveu este último, não era ainda o pedante abominável, que um casamento rico e o desejo de entrar na aristocracia fizeram depois desse autor, a partir do Disciple. Pierre et Jean, pelo seu estilo de uma limpidez sem igual, claro e simples, me parece a obra-prima de Maupassant. Foi talvez lendo-o que eu tive mais pronunciadamente a sensação de que o ideal do estilo é a clareza e a simplicidade. Aliás, embora não se fale desse livro, é de crer que o autor o apreciasse muito, porque foi justamente para ele que escreveu uma proclamação literária.

Na poesia ninguém me causou maior admiração do que Vítor Hugo e Lecomte de Lisle, sobretudo nos Poemas Bárbaros. Depois, conheci Haraucourt, em Âme nue e Seul, e o fiz um dos meus companheiros habituais de trabalho. Digo "companheiros habituais", porque sobre minha mesa há sempre alguns volumes de versos, e entre dois artigos de jornal, que tantas vezes tenho de escrever a seguir, eu intercalo a leitura de algumas poesias, lidas em voz alta.