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Dos poetas da língua portuguesa, de nenhum gosto tanto como de Antero de Quental.

Mas, ainda uma vez: é evidente que a quantidade enorme de obras literárias em prosa e verso, que eu tenho lido, há de ter influído sobre mim. Não vejo, porém, nenhuma que possa destacar para dizer que foi meu guia, meu ideal. Nenhum poeta ou romancista me deu as grandes emoções de certas obras de ciência. Apenas Richepin pode, talvez, pela circunstância que referirei, ter uma tal ou qual primazia.

Foi assim. Eu vim, sozinho, aos 18 anos, de Lisboa para o Brasil. Vim num vapor alemão. Era tímido e acanhadíssimo. Pouco antes de embarcar, por simples acaso, comprei dois livros: Força e Matéria, de Buchner, e Blasfêmias, de Richepin. Os volumes, que eu trazia, foram para o porão do navio, em um caixote. Assim, a bordo, isolado como se estivesse num deserto, tive amplo tempo para ler e reler várias vezes esses dois volumes, que se completavam maravilhosamente. Já então eu conhecia A Origem das espécies de Darwin e admirara a bela introdução que para esse volume escreveu Clémence Royer e de que ainda hoje, mais de 20 anos depois, sei de cor alguns trechos. Mas o livro de Buchner foi para mim um assombro, uma revelação, um deslumbramento! Na segregação em que eu estava só saía dele para ler as Blasfêmias; e as impressões