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O ideal de cada artista será sempre o de fazer vibrar o maior número possível de criaturas humanas. Como querer, à vista disso, tendo uma língua já tão pouco falada, fazer obras de um sabor meramente local? É tolice...

Na Bélgica, há, por exemplo, quem tente desenvolver, em contraposição às produções em francês, as produções em flamengo. Que resultado tem tido essa propaganda? Nenhum. E no entretanto, o flamengo é uma língua que tem tradições.

Fato idêntico na Itália. Em vão, diversos autores procuram reviver os dialetos locais dos velhos reinos de cuja fusão resultou a Itália moderna. Mas embora esses dialetos tenham também antigas literaturas já hoje nada podem. A língua italiana a todos suplanta.

Os sentimentos modernos tendem a ser os mesmos em todo o mundo. Os paquetes a vapor, as estradas de ferro, os automóveis, a imprensa e o telégrafo, os mil e um processos que aumentam a sociabilidade humana, tendem a reproduzir em todos os cérebros do mundo o que a física ensina que sucede com o nível dos líquidos nos vasos comunicantes. Há bem pouco tempo, uma circunstância me fez pensar nisso. Um fato, o assassinato do ministro Plehwe, em S. Petersburgo, me deu a mim um prazer tão intenso, como me daria o assistir à melhor cena dramática: vibrei de alegria.