Página:O Momento Literario (1908).pdf/95

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E ao mesmo tempo que isto me sucedia — a mim, que estava aqui longe, aqui desinteressado, lendo em banco de bonde essa notícia, — em Berlim, em Cracóvia e em Londres (disseram-no os telegramas no dia imediato) milhares de pessoas organizavam passeatas e meetings, comemorando esse assassinato redentor. Há assim, a todo momento, dispersos pelo mundo inteiro milhões de pessoas animadas simultaneamente pelos mesmos sentimentos.

Ora, literaturas locais corresponderiam a sentimentos locais, e estes só ainda existem por falta de meios de comunicação, de uma perfeita inteligência entre os povos ou entre as várias frações do mesmo povo.

Quanto a mim, eu creio que caminhamos não só para a universalização de todas as idéias, como para o emprego de uma só língua. O Esperanto, que é ainda imperfeito, já, entretanto, provou a possibilidade de uma língua literária universal.

Mas nisto, nem muitos crêem, nem o inquérito falou. Fica, portanto, a resposta à sua pergunta: não há a menor possibilidade de que se venham a criar literaturas locais nos nossos Estados, seja qual for a evolução posterior do Brasil. O fato só se poderia dar se uma zona dele fosse conquistada e povoada por uma nação estrangeira. Mas, nesse caso, mudada a língua, não haveria aí uma literatura local. Far-