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as diferenças da língua, não subsistirão as de sentimentos. Por isso se pode dizer que não temos nem teremos literatura nacional: não temos, porque nos falta cultura, embora ainda permaneçamos bastante isolados para conservarmos algumas coisa de característico; não teremos, porque quando chegarmos a ser uma nacionalidade e atingirmos ao grau de cultura precisa, o mundo, em torno de nós, terá também caminhado e nós, embora o façamos em português, exprimiremos apenas sentimentos análogos aos de todos os intelectuais civilizados daqui, da França, do Japão... de toda a terra.

Resta a sua última pergunta: a influência do jornalismo.

Há, é certo, muita gente que lhe queira mal e dele diga horrores. Há um pequeno número de prevenções razoáveis. E há, sobretudo, os ratés e os fruits secs, que, produzindo com largos intervalos, pequenas coisinhas chochas, fazem de si mesmos uma alta idéia, atribuindo a raridade da produção à sua preciosidade. E como o jornalismo não se compadece com esse regime de reclusão intelectual, eles o atacam.

Quanto a mim, nunca me lembrarei de elogiar os intestinos de um cidadão, sujeito à constipação crônica. Guardo o mesmo critério para recusar elogios aos cérebros, também "constipados", que só excretam alguma cousa com raros intervalos e violentos tenesmos...