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De um modo geral, a prevenção dos literatos contra o jornalismo é a mesma dos pintores de quadros pelos de tabuletas, dos escultores pelos marmoristas... Sempre que uma profissão usa dos recursos de qualquer arte para fins industriais, os cultores da arte se indignam e depreciam sistematicamente os profissionais, que assim se põem na sua vizinhança. Quanto mais o emprego dos meios é o mesmo e há, portanto, perigo de serem às vezes confundidos, mas também os artistas ostentam o seu desprezo e procuram cavar um fosso profundo entre os dois domínios. Mas em uma tabuleta se podem pintar figuras tão bonitas e tão artísticas como em uma tela destinada à moldura no mais rico dos museus. Hoje há cartazes melhores que muitas telas célebres. O marmorista faz às vezes estátuas que muitos escultores lhe invejariam.

Com o jornalismo sucede o mesmo. Como os jornalistas têm de ser prosadores, os artistas da palavra escrita, achando que eles a empregam para fins de imediata utilidade, procuram desdenhá-los. Demais, no afã da vida moderna, que nem a todos dá tempo para as lentas meditações, o jornal se fez um concorrente temível do livro. Daí o ciúme, a inveja.

Mas os livros bons sobrenadam apesar de tudo. Os que acham que não produzem obras-primas, porque estão jungidos aos trabalhos de imprensa, se dispusessem de todo o tempo preciso e não