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tivessem necessidade de trabalhar, talvez não produzissem nada nem na imprensa nem na literatura...

É certo, entretanto, que a necessidade de ganhar a vida em misteres subalternos de imprensa (sobretudo o que se chama "a cozinha" dos jornais: fabricação rápida de notícias vulgares), misteres que tomam muito tempo, pode impedir que homens de certo valor deixem obras de mérito. Mas isso lhes sucederia se adotassem qualquer outro emprego na administração, no comércio, na indústria. O mal não é do jornalismo: é do tempo que lhes toma um ofício qualquer, que não os deixa livres para a meditação e a produção.

A imprensa comporta para os que nela trabalham com certo amor uma grande dose de arte.

Que é o essencial em uma obra artística? Dar emoções. Pois bem: é um prazer superior pregar uma doutrina, sustentar uma opinião e vê-la seguir, difundir-se, infiltrar-se no espírito público, através de mil obstáculos, comovendo as multidões, abalando-as, dando-lhes um ideal e forçando-as a agirem de acordo com ele.

Para isso não se pede talvez a perfeição da forma. Pede-se, porém, a clareza dos conceitos, o aproveitamento das oportunidades, a repetição. Um poeta se dá por suficientemente pago do seu trabalho se esgotaram uma edição de mil