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O grande homem subiu a escada da machina, offegante, impassivel, vermelho, grave, ainda com a gravata branca do jantar. Esponjou a calva, e disse n’um tom suave:

Now, I should enjoy a nice glass of beer...

VII

 

No dia seguinte chegámos a Malta. Era de noite, não havia estrellas. A agua da bahia estava immovel e negra. Via-se defronte La Valette, elevada como uma collina, altiva como um castello, pespontada de luzes. Em redor do paquete as gondolas corriam silenciosamente tendo á popa, esguia e alta, uma lanterna pendente. Havia um grande silencio, uma suavidade ineffavel. Os gondoleiros remavam calados. Aquillo era doce e regular. Sentia-se o mysterio italiano e a policia ingleza.

Desembarcámos: fomos para Clarence Hotel, na Strada-Reale, defronte da celebre igreja de S. João. Rytmel hospedou-se em casa dos officiaes inglezes. D. Nicazio e Carmen vieram para Clarence-Hotel, tambem. Os tres primeiros dias em Malta foram occupados em percorrer os monumentos: o palacio dos grã-mestres, os palacios chamados Estalagens, e que eram pertencentes ás differentes nacionalidades da ordem, as grandes ruas brancas, com elevadas e altivas casas no gosto da Renascença, e os arredores de Malta, Citta-Vechia, Bengama, Boschetto, e a ilha de Calypso, que tem tantos encantos em Homero e que é um rochedo humido, cheio de cavernas tenebrosas. Desde o primeiro dia, Rytmel e alguns officiaes iam jantar a Clarence-Hotel. A condessa comia sempre nos seus quartos. O ruido, a petulancia da mesa, era Carmen. Deixara-se logo seguir sempre por um rapaz francez, espirituoso e ligeiro, louro e ardente, um Mr. Perny, viajante por tedio, dizia elle.

Carmen não se approximava de Rytmel. Havia entre elles como uma separação combinada e discreta. Rytmel, pelo contrario, não se affastava de nós em todas as excursões ao campo, ás fortificações, á bahia; todas as noites nos acompanhava ao theatro. O conde tinha ficado logo captivado das grandes tranças louras d’uma rapariga que