Eu bati o pé, desesperado.
— Ah que infamia! capitão Rytmel! Que infamia!
E por uma inspiração absurda, querendo desabafar, fazendo alguma cousa de violento, gritei para alguns marinheiros que estavam á prôa:
— Ha algum inglez ahi que preze a sua bandeira?
Todos se voltaram admirados, mas sem comprehender.
— Pois bem! gritei eu, declaro que esta bandeira cobre uma torpeza, tem a cumplicidade da deshonra, e que é sobre toda a face ingleza que eu cuspo, cuspindo no pavilhão inglez.
E correndo á popa cuspi, ou fiz o gesto de cuspir sobre a larga bandeira ingleza. Um dos marujos então de certo comprehendeu porque teve um movimento de ameaça.
— Ninguem se mova! gritou Rytmel. Eu sou o offendido. Meu amigo, disse elle com a voz suffocada, tem razão: desde que abandonei Malta, deixei de ser official inglez. Sou um aventureiro. Esta bandeira, com effeito, não tem que fazer aqui!
Adeantou-se, arreou o pavilhão de tope da popa.
E n’uma exaltação tão insensata como a minha, arremessou o pavilhão ao mar; as ondas envolveram-n’o, e por um estranho acaso, no encontro das aguas, a bandeira desdobrou-se, e ficou estendida sem movimento, serena, immovel, á superficie do mar, até que se afundou.
Rytmel, então, por um impulso romanesco e apaixonado, tomou um lenço das mãos da condessa, amarrou-o á corda da bandeira, e içando-o rapidamente, gritou:
— De ora em diante o nosso pavilhão é este!
Eu achava-me no meio de todas aquellas scenas violentas, como entre as incoherencias d’um sonho.
N’um movimento que fiz, senti no bolso o rewolver: não sei que desvairadas ideias de honra me hallucinaram, tirei-o, engatilhei-o, brandi-o, gritei:
— Boa viagem!
— Jesus! bradou a condessa.
IX
Rytmel precipitou-se sobre mim e arrancou-me o rewolver.
Eu murmurei simplesmente: