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uma mágoa, uma saudade do marido talvez, uma lembrança d’um baile, ou d’uma flôr que ficava bem — e adeus para sempre! e quer-se voltar; e tu, miseravel, soffre, chora, arrepella-te, e morre para ahi como um cão. Meu amigo, eu não tenho voz, nem força: previna o piloto: a senhora condessa tem pressa de chegar a terra!...

— William! William! gritou a condessa, precipitando-se, tomando-lhe as mãos. Mas tu não percebes nada? Em Malta, como em Alexandria, eu sou tua, só tua... tua deante de Deus, tua deante dos homens...

N’este momento ouviu-se a voz distante de um sino!

Eram os sinos de Malta. A terra ficava defronte.

A suavidade da hora era extrema; o ar estava ineffavelmente limpido. Viam-se já as aldeias brancas, o altivo perfil de la Valette. O sol descia. Os seus ultimos raios obliquos faziam scintilar os miradouros. Distinguiam-se no caes os vendedores de flores. Duas gondolas corriam para nós. Houve um grande ruido nas velas, assobios de manobras, o navio parou, e a ancora caiu na agua! Tinhamos chegado. Os sinos de Malta continuavam repicando.

X

 

Quando desembarcámos corri ao hotel. O conde ainda não tinha vindo do seu passeio a Bengama com Mademoiselle Rize. Rytmel foi encerrar-se em casa, n’um triste estado de exaltação e de paixão.

Carmen veio logo procurar-me ao meu quarto. Entrou rapidamente, perguntou-me:

— Voltaram? como foi?

— Sabia então alguma cousa? interroguei admirado.

— Tudo. Por um acaso. Sabia que queriam fugir. Durante toda a noite Rytmel andou fazendo preparativos. Era uma combinação de ha trez dias. Lord Grenley sabia. E agora?

— Agora, disse eu, tudo terminou. A condessa naturalmente parte no primeiro paquete.

— Duvido. Mas se não partem, ha uma desgraça. É uma fatalidade, bem o sei, mas que quer? Amo aquelle homem,