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Ella tinha caido n’um sophá, muda, com os olhos fixos, meio loucos, os dentes trémulos.

Eu borrifava-a d’agua, tomava-lhe as mãos, fallava-lhe baixo, e perguntava-lhe, aterrado, dando-lhe os nomes mais doces para a serenar:

— Que foi, minha querida, que foi?

Via-lhe os vestidos cheios de sangue.

— Feriram-n’a?

Ella fez um gesto negativo.

— Então? então? disse eu.

A pobre senhora queria fallar, erguia-se, suffocava, anciava, parecia n’uma agonia.

De repente atirou-se aos meus braços e desatou a chorar.

— Fale, diga, insistia eu.

— Mataram-n’o, disse ella.

— Mataram quem?

— Rytmel.

— Como? Onde?

— No jardim... Vá!

XI

 

Corri ao jardim. Os meus passos instinctivamente, apressaram-me para o lado da pequena porta verde aberta no muro.

Estava aberta. Ao lado, junto de uma moita de baunilhas, estendido no chão, levemente apoiado no cotovello, vi Rytmel.

— Então? gritei-lhe, abaixando-me anciosamente para elle.

— Só ferido...

— Como? onde?

Não respondeu, os olhos cerraram-se e desfalleceu sobre a relva.

Corri ao tanque, trouxe um lenço ensopado em agua, molhei-lhe as faces e as mãos: a ferida era na parte superior do peito, do lado direito, por baixo da clavicula. Vi que não era mortal.

Eu estava n’uma extrema hesitação. Para onde levar aquelle homem?