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morta. Encheu-me o peito uma longa saudade. Lembrava-me d’ella, dançando no convez do Ceylão, rindo á mesa de Clarence-Hotel. Tudo tinha acabado. Nunca mais! nunca mais! Alli ficava com uma bala aos pés!

O vento refrescou.

— Vento d’Eeste! disse o marinheiro de quarto.

— Vem de Malta... pensei eu.

E as minhas ultimas lagrimas cairam sobre o mar...

XV

 

Cheguei ao fim das minhas confidencias.

Quando desembarquei em Lisboa a condessa tinha ido para Cintra. Vi-a, ao fim d’esse verão, em Cascaes. Ella mostrava-se alegre, o que era talvez uma maneira de estar triste! Cascaes estava imbecilmente jovial: batia-se o fado! No inverno seguinte a condessa encontrou-se, em Paris e em Londres, com Rytmel. Voltou d’essa viagem mais triste e mais pallida. Lentamente, pareceu-me que a confiança do seu coração se affastava de mim. Apartei-me, n’uma reserva discreta. Nunca mais nos nossos dialogos, todos exteriores e ephemeros, se alludiu á viagem de Malta.

Eu, no entanto, continuava recebendo de Rytmel as cartas mais expansivas e mais intimas. A nossa amisade, que a exaltação e o acaso das paixões formara, affirmava-se agora n’uma communhão serena de sentimentos e de idéas. N’uma d’essas cartas Rytinel fallava-me de miss Shorn, uma rapariga irlandeza...

«É uma neta dos bardos, uma sombra ossianica, a alma da verde Erin!» dizia-me elle.

No começo d’esta primavera recebi uma carta de Rytmel que continha estas palavras:

«Parto para ahi: um quarto livre e solitario em tua casa; bons charutos; uma casa affastada e livre n’um bairro pobre; um coupé escuro com bons stores; reserva e amisade. — Frater, Rytmel

Executei escrupulosamente as suas determinações.

Ha sessenta dias, talvez, Rytmel chegou, no paquete de Southampton. Pareceu-me mais triste, mais concentrado.

Havia certamente um segredo, uma preoccupação, um cuidado qualquer, que habitava no seu peito. Esperei que