— Quem lhe deu a chave? perguntou o mascarado.
O homem calou-se.
— Quem lhe fallou n’isto?
Calou-se.
— Que vinha fazer, de noite, ás escondidas, a esta casa?
Calou-se.
— Mas como sabia d’este absoluto segredo, de que apenas temos conhecimento nós?...
E voltando-se para mim, para me advertir com um gesto imperceptivel do expediente que ia tomar, accrescentou:
— ... nós e o senhor comissário.
O desconhecido calou-se. O mascarado tomou-lhe o paletot e examinou-lhe os bolsos. Encontrou um pequeno martello e um masso de pregos.
— Para que era isto?
— Trazia naturalmente isso, queria concertar não sei quê, em casa... um caixote...
O mascarado tomou a luz, approximou-se do morto, e por um movimento rapido, tirando a manta de viagem, descobriu o corpo: a luz caiu sobre a livida face do cadaver.
— Conhece este homem?
O desconhecido estremeceu levemente e pousou sobre o morto um longo olhar, demorado e attento.
Eu em seguida cravei os meus olhos, com uma insistencia implacavel nos olhos d’elle, dominei-o, dísse-lhe baixo, apertando-lhe a mão:
— Porque o matou?
— Eu? gritou elle. Está doido!
Era uma resposta clara, franca, natural, innocente.
— Mas porque veiu aqui? observou o mascarado, como soube do crime? Como tinha a chave? Para que era este martello? Quem é o senhor? Ou dá explicações claras, ou d’aqui a uma hora está no segredo, e d’aqui a um mez nas galés. Chame os outros, disse elle para mim.
— Um momento, meus senhores, confesso tudo, digo tudo! gritou o desconhecido.
Esperámos; mas retraindo a voz, e com uma intonação demorada, como quem dicta:
— A verdade, prosseguiu, é esta: encontrei hoje de tarde um homem desconhecido, que me deu uma chave e me disse: sei que é Fulano, que é destemido, vá a tal rua, n.º tantos...
Eu tive um movimento avido, curioso, interrogador. Ia emfim saber onde estava!
Mas o mascarado com um movimento impetuoso pôz-lhe