Página:O Mysterio da Estrada de Cintra (1894).pdf/35

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a mão aberta sobre a bocca, comprimindo-lhe as faces, e com uma voz surda e terrível:

— Se diz onde estamos, mato-o.

O homem fitou-nos: comprehendeu evidentemente que eu tambem estava ali, sem saber onde, por um mysterio, que os motivos da nossa presença eram tambem suspeitos, e que por consequencia não eramos empregados da policia. Esteve um momento calado e accrescentou:

— Meus senhores, esse homem fui eu que o matei, que querem mais? Que fazem aqui?

— Está preso, gritou o mascarado. Vá chamar os outros, doutor. É o assassino.

— Esperem, esperem, gritou elle, não comprehendo! Quem são os senhores? Suppuz que eram da policia... São talvez... disfarçam para me surprehender! Eu não conheço aquelle homem, nunca o vi. Deixem-me sair... Que desgraça!

— Este miseravel ha de fallar, elle tem o segredo! bradava o mascarado.

Eu tinha-me sentado ao pé do homem. Queria tentar a doçura, a astucia. Elle tinha serenado, fallava com intelligencia e com facilidade. Disse-me que se chamava A. M. C., que era estudante de medicina e natural de Vizeu. O mascarado escutava-nos, silencioso e attento. Eu fallando baixo com o homem, tinha-lhe pousado a mão sobre o joelho. Elle pedia-me que o salvasse, chamava-me seu amigo. Parecia-me um rapaz exaltado, dominado pela imaginação. Era facil surprehender a verdade dos seus actos. Com um modo intimo, confidencial, fiz-lhe perguntas apparentemente sinceras e simples, mas cheias de traição e de analyse. Elle, com uma boa fé inexperiente, a todo o momento se descobria, se denunciava.

— Ora, disse-lhe eu, uma cousa me admira em tudo isto.

— Qual?

— É que não tivesse deixado signaes o arsenico...

— Foi opio, interrompeu elle, com uma simplicidade infantil.

Ergui-me de salto. Aquelle homem, se não era o assassino, conhecia profundamente todos os segredos do crime.

— Sabe tudo, disse eu ao mascarado.

— Foi elle, confirmou o mascarado convencido.

Eu tomei-o então de parte, e com uma franqueza simples:

— A comedia acabou, meu amigo, tire a sua mascara, apertemo-nos a mão, dêmos parte á policia. A pessoa que