Página:O Mysterio da Estrada de Cintra (1894).pdf/53

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conhecimento do seu caracter, e a coherencia dos temperamentos, que é uma verdade nas sciencias physiologicas. Não, não é o assassino. Se o diz, está louco, mente. Digo-lh’o claramente, em frente, diante dos seus proprios olhos fitos sobre os meus: — Se te declaras o auctor d’esse crime, mentes!

Elle tem de certo o senso moral transviado. Se me deixassem fallar-lhe!... Esclareçam-lhe, pelo amor de Deus, aquella rasão cheia de escuras nuvens da paixão e da dôr! Isto é afflictivo! Honra, amor, familia, esperança, tudo esqueceu esse homem! Que se lembre, o desgraçado, que não é só n’este mundo. Que se lembre que talvez a estas horas, no fundo da provincia, sua mãe, suas irmãs, sabem já que elle está aqui apontado como assassino! Que se lembre da terrivel deshonra, do seu futuro perdido, das horas solitarias da prisão, da atroz vergonha de um interrogatorio publico, e do echo profundo que faz na alma humana o ruido sinistro dos ferros da grilheta.

Não ponho no fim d’esta carta o meu nome, porque presinto vagamente n’este grupo de successos, confusamente conglobados perante a minha apreciação, a passagem mysteriosa e fatal de um crime que vae poderosamente na direcção do seu fito, esmagando e despedaçando os estorvos que o impecem. Ora eu não quero que a publicidade do meu nome leve os cumplices no attentado de que se trata, ou porventura a policia, a aniquillar ou a embaraçar de qualquer modo a intervenção expontanea que eu proprio vou ter no descobrimento dos reus. Conto com os meus recursos, mas preciso para os pôr em pratica de toda a minha liberdade.

Creia-me, senhor redactor, etc — Z.