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— Capitão, tem a bondade, dá-me uma palavra?

A condessa fez-se muito pallida. O capitão teve um movimento colerico, mas ergueu-se e seguiu a hispanhola.

Eu approximei-me da condessa.

— Quem é esta mulher? Que quer?... disse-me ella toda tremula.

Eu soceguei-a e dirigi-me a D. Nicazio.

— Viu aquelle movimento de sua mulher?

— Vi.

— É inconveniente: e o cavalheiro responde de certo pelas phantasias ou pelos habitos d’aquella senhora...

— Eu! gritou o hispanhol, eu não respondo por coisa alguma. O senhor que quer? É um monstro essa mulher! Livre-me d’ella, se póde! Olhe: quel-a o senhor? Guarde-a. Está sempre a fazer d’estas scenas! E não lhe posso fazer uma observação! É uma furia, usa punhal!

— Esta mulher, fui eu dizer á condessa, é uma creatura sem consideração e parece que sem dignidade. Não a olhe, não a escute, não a perceba, não a presinta. Se houver outra inconveniencia eu dirijo-me ao commandante, como se ella fosse um grumete insolente. É pena... é terrivelmente linda!

A hispanhola no entanto, junto da amurada, fallava violentamente ao capitão Rytmel que a escutava frio, impassivel, com os olhos no chão.

O conde subiu n’este momento. Outras senhoras vieram, os grupos formavam-se, começavam as leituras, as obras de costura, o jogo do boi...

Eu approximei-me de D. Nicazio e disse-lhe sem lhe dar mais importancia:

— Então esta sua senhora dá-lhe desgostos?

— É sempre aquillo com o capitão. Foi desde a tal caçada ao tigre... Quer que lhe conte?...

— Diga lá.

Sentei-me na tenda onde se fuma, accendi um charuto, cruzei as pernas, recostei a cabeça e, emballado pelo lento mover do navio, cerrei os olhos.

— Um dia em Calcuttá, começou o hispanhol, dia de grande calor...

Mas não, senhor redactor. Eu quero que esta historia a saiba do proprio capitão. Ahi tem a tradução fiel de uma das mais vivas paginas de um dos seus albuns de impressões de viagem.


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