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O reino de Kiato
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Contou-lhe o hoteleiro as homenagens que todos os annos prestava a população da cidade aos que haviam sido estrangulados ali. Não prestavam cultos aos mortos porque elles não morriam, acabavam-se. Tinham piedadde dos assassinados em nome da lei. Não sabendo onde repousavam os restos delles, fizeram da forca um lugar sagrado, aonde todos os annos iam em romaria levar-lhes o preito de sua lembrança e condemnação aos que os mataram.

Era uma enorme romaria. Iam em grande recolhimento, e, ao pé da forca, cada um lançava a sua offerenda, um ramalhete de flores. O que mais edificava naquella homenagem era o respeito com que todos se portavam. Que differença da romaria á morada dos mortos no dia de finados, nos paizes civilisados do resto do mundo! Que bachanal! O luto pesado dos visitantes — um escarneo aos mortos. Nem numa feira ha tanta irreverencia. Os mausoléos serviam de mesa ás vitualhas e vinhos do festim macabro!

Paterson, ainda impressionado com o parque da morte, dizia comsigo:

— Conservado o Forum, devia ter sido conservada, como foi, a forca. Esta é a consequencia d’aquelle. O assassino é uma consciencia que se desvairou ao serviço do mal. A justiça são consciencias desvairadas, que, sem responsabilidade, mandam matar. O assassino tem atenuantes; a justiça não.

O maior crime de 93 foi o assassinato de Lavoiser, sabio que valia mais que milhares de homens como Marat, seu assassino. A Revolução Franceza maculou esse delicto, infamou-a até a consumação dos seculos. Os beneficios que fez a sociedade não a remiram do attentado con-