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O reino de Kiato
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Minha moral diz: — «não matarás». O governo obriga-me a entrar para o exercito, a fazer um curso, uma aprendizagem, cujo unico fim é aperfeiçoar-me na arte de destruir. A idéa de matar horrorisa-me. Tenho de aprender a manejar as armas para um dia satisfazer, talvez, aos caprichos do chefe da nação, bater-me, tirar a vida de homens de outras terras, de outros climas, que nunca me offenderam, ou de meus proprios irmãos. E’ horrivel. Si resisto, prendem-me, arrastam-me para o carcere, infligemme torturas, emquanto minha mulher e filhos padecem fome, porque lhes arrancaram o arrimo, o chefe da familia, porque este obedeceu á sua moral, seguiu os ditames de sua consciencia.

Os dirigentes de homens justificam as classes armadas para a defeza da patria, em caso de agressão estrangeira. Os grandes exercitos, pelo contrario, incitam a guerra. Um homem desarmado soffre melhor as offensas.

Tem-se uma idéa muito falsa de patriotismo. Quem ama a sua patria quer vel-a na paz, procura por todos os meios evitar os desastres de uma guerra, embora tenha a certeza da victoria. Governo patriotico é aquelle que conjura as crises internacionaes pela arbitragem, pela diplomacia e nunca pelas armas. A prova tivemos na ultima guerra. A Allemanha quiz esmagar a França, porque tinha um formidavel exercito. Entraram na lucta quasi todas as nações do mundo. Qual o resultado? Morreram milhões de homens e as nações que se bateram ficaram quasi anniquiladas, e tão cedo não se levantarão, E’ o caso de dizer: não houve vencidos nem vencedores.

O Kaiser e o tuchaua têm a mesma moral: matam os seus semelhantes.