Página:O Reino de Kiato.pdf/126

Wikisource, a biblioteca livre
O reino de Kiato
137

Pergunte ao cidadão de Kiato si é feliz; responderá que sim. Em todos os outros paizes da terra, a resposta seria condicional, a da lenda do homem sem camisa.

Passadas que foram as primeiras impressões, você, King Paterson, devia ter sentido as revoltas que tambem experimentei. Fiquei aqui, como já lhe disse, por um accidente. Eu era commerciante e, como tal, tinha uma cultura mediocre. Na impossibilidade de regressar de prompto a Londres, comecei, para matar o tempo, a frequentar a bibliotheca. A leitura me foi interessando, abrindo horisontes, que meu espirito desconhecia, illuminando-me emfim. Chegou um periodo de verdadeira ancia de aprender. Li por espaço de dez annos e, então, pude comprehender a felicidade deste grande povo. Eu me havia privado de habitos inveterados como o uso do alcool e do tabaco. Nos primeiros tempos, as saudades dos meus algozes foram taes que me fizeram soffrer penas iguaes á separação de entes que me fossem muito caros.

Eu era novo, em plena virilidade, e a continencia forçada da carne fazia explosões que me levavam ao desespero. Eram sempre sonhos eroticos que determinavam essas crises, a revolta da carne palpitante de desejos contra a castidade que não era a virtude monachal imposta, mas devida á falta absoluta de mulheres livres. Soffri muitos annos mas adaptei-me ao meio, que me purificou das miserias physicas e moraes.


O pavilhão que estavam construindo achava-se quasi prompto. Paterson notou que davam a ultima demão á obra. O salão media cerca de seis kilometros, com dois andares de archibancadas. Observou admirado uma rede de