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O reino de Kiato
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Dispoz os seus negocios e embarcou para Londres em um transatlantico inglez.

O navio era enorme e de todo o conforto.

As alegrias daquelle pequeno nucleo humano contrastavam com as tristezas do oceano.

A vida a bordo passava-se num intermino contentamento. A par dos gosos de opipara mesa, as diversões do espirito.

Durante o dia fazia-se musica, cantava-se, dansava-se.

A’ noite, cinema, theatro e dansas.

Para não ficarem segregados do mundo, havia imprensa a bordo, que pela manhã noticiava os factos mais importantes occorridos em toda a terra. Eram os milagres da telegraphia sem fio.

A viagem ia-se fazendo entre risos e cantares.

Um dia o mar irou-se; a sua superficie, que era qual a de um lago de saphira, crispou-se, fez-se revolta, grandes ondas se ergueram em montanhas alterosas e o navio, que vinha singrando como um batel em quedas aguas, tornou-se um joguete nas mãos do enraivecido titan.

A bordo não mais se ouviu uma nota alegre.

O vento uivava nas obras mortas do navio, querendo destruil-as.

Os passageiros, amendrontados, recolheram-se aos camarotes, e afflictos avaliavam a furia da tempestade pelos tombos da embarcação, que espinoteava saccudida pelas ondas numa instabilidade perenne.

A maruja a postos e o commandante no passadiço eram testemunhas d’aquelle imponente drama.

O REINO DE KIATO — 2